Flores Carnívoras

Flores carnívoras me anestesiam com gás carbônico,

estou acordado sem me dar conta disso,

estou acordado, mas minha alma cochila há vários séculos.

Será que sonho que estou vivendo,

enquanto meu corpo é a sobremesa de vermes?

Os vermes não sabem que devoram um irmão seu.

Droga, não consigo lembrar o que fiz ontem,

talvez porque não tenha feito nada,

ou por acha que o que fiz não vale nada,

dúvida sulfúrica corroendo minha cabeça.

Sim, lembro o que fiz amanhã,

esse verbo se encaixa bem nessa mensagem implícita.

Porque nada sabemos que seja totalmente aberto e claro,

pois a própria luz ofusca e lacrimeja a voz de mossa razão,

e a dita verdade duvida de si mesma.

Amizade? Nada mais é

que uma doença hereditária de nossos antepassados,

pobres coitados que tentavam amenizar as indiferenças que existiam.

É por isso que o mundo está essa droga toda: cada um só busca

a própria felicidade.

Saio de casa para dentro do mundo:

sinto-me como um estrangeiro rústico, deslocado e perdido;

sinto-me como uma orquídea abandonada na varanda,

pela displicência da família que acabara de mudar-se;

sinto-me como um presidente num país sem população.

Ainda que eu andasse por aí com a cabeça entre as mãos,

com um par de asas negras de anjo nas costas,

ninguém ainda assim me notaria,

para me dizer:

_ Hei-lo aí perto de nós.

Queimei minha alma perto do rio,

Deus não se surpreendeu porque já sabia tudo de antemão.

Em algumas dessas frases que escrevi nesse poema

há uma mensagem profética

que só alguns cegos e autistas poderão ver e perceber.

Dor de cabeça,

minhas orações subordinadas a mim sentem dor de cabeça.

Pudesse escalpelá-las para que fossem atormentar

quem come, bebe e trabalha.

Quem é esse que vejo no espelho?

Quem puxará a tomada para que eu possa finamente

funcionar sozinho?

Quem quebrará as paredes plúmbeas de minha introspeção,

e levar-me-á a salvo para a sociedade dona de absolutamente nada?

Se eu tivesse ao menos uma fé

que não duvidasse nem acreditasse em nada.

Tê-la como quem guarda uma moeda no bolso,

tê-la somente para mim e nunca reparti-la com ninguém.

Para que possas me entender,

terás que está no Hades de minha mente Rosilene,

ouvir minhas idéias gemendo no purgatório,

e caminhar pelas calçadas com a fisionomia de minha alma disforme.

Gilliard Alves

Gilliard Alves
Enviado por Gilliard Alves em 30/12/2007
Código do texto: T796927
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