Mascarados
No baile de máscaras,
tu sorri para mim de longe,
não consigo aperceber-te,
minha miopia me confunde,
uma multidão misturada em cores,
melodias e passos de danças,
uma grande confusão e me perco,
não sei bem para onde devo ir,
sinto tua mão na minha, respiro,
conduz-me para fora onde há luar,
um teto de estrelas em um céu negro,
tua máscara esconde quase tudo em ti,
vejo apenas teus olhos espelhos d'alma,
minha máscara é também enganadora,
mas não somos todos? Todos mascarados,
todos fingidores de dores e amores,
brincando de seres reais em um conto incompleto,
talvez não de fadas, de utopias e irrealizações,
rodopiamos como mariposas contra janelas,
cintilando luz em meio à nossa imensa escuridão,
crendo apenas no que desejamos acreditar,
refutando a verdade que nos parece destoante,
queremos ser vistos entre tantas encenações,
procuramos essências e conexões desconhecidas,
aquelas que rejeitamos na primeira oportunidade,
quando o roteiro não confirma nossos delírios,
bailamos na música que ecoa do salão principal,
um cadenciar deslizante sob um gelo muito fino,
há perigo em entregar o coração ao desconhecido,
sempre haverá quem o queira usar e quebrar,
tantos pedaços impossíveis de colar mais tarde,
tudo é tão frágil e não sabemos nem quem somos,
teus olhos nos meus, meus olhos nos teus, indagações,
Será? E se partires meu espírito com insensibilidade?
Talvez devamos parar de bailar e fugir para longe,
separados, distanciados, o esquecimento virá,
talvez sejamos melhores em odiar do que em amar,
sentimentos são sempre dolorosos e cínicos,
como o "Corvo", de Poe, são arautos do pessimismo,
como no "Morro dos Ventos Uivantes" magoam,
como em "Desejo e Reparação" nos fazem guerras,
como em "Um Dia" um dos protagonistas morre,
como em "Como eu era antes de você" a eutanásia,
como em "A Culpa é das Estrelas" um câncer,
como em "Diário de uma Paixão" o Alzheimer,
talvez o melhor seja desistir enquanto há tempo,
todas as histórias de amor parecem fadadas ao fim,
ao irremediável fracasso de sucumbir à realidade,
quando o romantismo perde seu lirismo e ganha acidez,
sejamos francos ninguém ama além de sua imaginação,
no final amamos a representação de uma impossibilidade,
então, meu bem, encerremos essa dança e nos afastemos,
não há futuro para os amores românticos, são só ilusão,
e prefiro manter minha miopia para visões distantes,
salvaguardando minha alma de ser em vão despedaçada...