Certa vacuidade
Claro, assim avisto, na convicção dos olhos cegos,
a inutilidade dos corpos.
Pessoas vêm e vão sobrecarregadas,
adornadas de almas ímpias,
transitam pela fronteira do caos.
Elas riem entre os salões e os bordéis,
eu as encaro pensando nas suas
cruzes dos âmagos.
Penso como no beijo do primeiro amor,
que o amor partiu embora por ser o primeiro.
Sinto a presença celeste da humanidade,
o meu seio guarda a amargura
de Werther, mas não pela amada
mulher das quimeras,
pelo ausente fulgor da sociedade,
ou a existência ser existência;
o meu coração é o tempo
da minha tormenta atmosférica:
quando bate passa gente,
como ar em que respiro
humanos os quais todos eu sou.