A CHUVA

A CHUVA

Sônia Sobreira

Eu abro minha janela

e vejo a chuva caindo

como cascatas de flores.

Tamborila na vidraça,

correndo alegre e ligeira

por entre os bancos da praça.

Enfeita a grama macia

de reluzentes luzeiros,

que do céu descem ligeiros,

reverberando em mil cores

como promessas de amores.

E os pingos que caem prateados,

saltam livres nas calçadas,

rolando desnorteados

pra se unirem ao depois.

E nessa união primorosa,

cada pingo é como uma rosa,

formando grinalda e véu,

que nos cabelos da noite

como adereço reluz,

unindo a terra com o céu

em pedacinhos de luz.

Que paisagem deslumbrante!

tal qual, jamais foi pintada

por mais famoso mais pintor.

Ao longe, lá no horizonte,

raios faiscam na serra

clareando a escuridão.

E em crescente torrencial,

encharcando toda a terra,

magestosa a chuva cai

como gotas de cristal

formando poças no chão.

Quando os pingos escasseiam,

já vem perto a madrugada

e sem forças pra cair

ficam agarrados no céu.

Eu vislumbro o firmamento

salpicado de estrelas,

que torna a noite mais bela,

e daqui, sozinha a vê-las,

guardando em meu pensamento

tanta beleza divina,

silente, eu fecho a janela.