A fúria com que mordo a vida
Deixa-me chorar
deixa que as minhas lágrimas
relavem este corpo esquálido
depois de passar esta tempestade interior
lava-me e acaricia-me de forma
que os meus poros ribombem
e deixa-me ouvir Chavela Vargas
cantar " ay un niño en la calle "
porque a rua não foi feita
para os restos dos afagos
que eu distribuo aos sem morada fixa
talvez com receio de que
os anos que estão por vir
me dispam
e me façam cortar com faca acutilante
este fio indelével
que sustenta
a vida
que de tão efémera pode ruir
sem que eu me aperceba