A fúria com que mordo a vida

Deixa-me chorar

deixa que as minhas lágrimas

relavem este corpo esquálido

depois de passar esta tempestade interior

lava-me e acaricia-me de forma

que os meus poros ribombem

e deixa-me ouvir Chavela Vargas

cantar " ay un niño en la calle "

porque a rua não foi feita

para os restos dos afagos

que eu distribuo aos sem morada fixa

talvez com receio de que

os anos que estão por vir

me dispam

e me façam cortar com faca acutilante

este fio indelével

que sustenta

a vida

que de tão efémera pode ruir

sem que eu me aperceba

Rogério Saviniano Telo
Enviado por Rogério Saviniano Telo em 17/01/2008
Reeditado em 17/01/2008
Código do texto: T820377
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