[Ato X] Bom Dia
Miro a faceta luzidia refletora.
Sei quem que dela também me olha.
Diariamente: "Bom dia, rosto meu".
E um mostrar de dentes me retorna.
Tão zeloso, a vagarosos passos,
O sorriso desbota, se desnutre,
Assim como as pregas delgadas.
Fundos olhos meus de abutre.
O Carnaval chegara feito verão,
Mas era uma longínqua fantasia.
Em um canto remoto do espelho,
Preguei uma imagem antiga minha.
Alvoreci no dia após o anterior
Sorrindo àquela colombina distante.
Cumprimentei: "Bom dia, rosto meu",
Cega aos olhos rapine'ros destoantes.
Mais outras imagens tomaram o espaço
Comendo as bordas, indo para o centro.
Até sobrar mais nenhuma parte visível
Da poça fria cristalina que havia dentro.
Posto que ainda existisse um outro olho,
O olho de vento que dava ao mundo.
Comecei como antes, timidamente, até
Encher com risos inalterados o fundo.
"Bom dia, rostos meus." Eu dizia.
Sob o vidro, p'la escuridão depositada,
Cercado, o último raio foi devorado.
Eu, ecoada, pairava sobre este nada.
(CaosCidade Maravilhosa, 22 de fevereiro de 2007. Este poema faz parte do meu projeto "Marina em Poesia".)