Janelas do Tempo

Quando jovem, sonhei com um futuro bom.

E corri tanto para realizar meus sonhos!

Chorei, desejei, xinguei, busquei tanta coisa;

Atirei pedras e muitas delas colhi.

Cavei a vida com as mãos

Os buracos ainda estão lá

Colhi flores, sem querer guardei os espinhos.

Porque as pétalas murcharam cedo demais

Hoje, com o passar do tempo, sinto que já

Não tenho tanto tempo. E o tempo me falta

Até para ver o tempo que se vai

Já não paro para olhar o céu

A lua que em todas as fases sempre me encantou

Eu já nem a noto mais

A que mais me chama a atenção é a lua cheia

Como é linda e misteriosa!

Lembro-me que muitas vezes me perguntei

Pelas histórias que ela presenciou

Quantas verdades e mentiras ela silenciou

Durante algum tempo ao amanhecer e ver

As folhas orvalhadas eu dizia: “Hoje a lua chorou!”.

De quem será a história que mais uma vez ela ocultou?

Sempre que posso tento perguntar para as estrelas se elas

Também sabem os segredos que a lua guardou.

Hoje penso no tempo que se foi com saudade

Quantos abraços!

Quantos amigos que jamais abraçarei novamente

Tantas marcas de feridas,

Cicatrizes que não somem feito tatuagem enrustida,

Tatuagem curtida, na pele seca envelhecida pelo tempo.

O tempo que passei olhando da janela,

Janela da alma.

Janelas entreabertas.

Janelas fechadas que por falta de tempo não abri

Às vezes fico a me perguntar o que teria por trás delas.

Um vasto jardim, Uma montanha de pedras, Não sei.

Mas gostaria de tê-las aberto. Gostaria de ter cruzado o jardim

Gostaria de ter escalado a montanha de pedra

Talvez encontrasse água fresca no final da escalada.

Janelas que não abri, jamais irei saber o que teria por trás delas.

O tempo a cada dia se faz menor

Não quero contar janelas, nem o tempo.

Mas se alguma janela ainda tiver para abrir, irei abri-la.

Para desvendar os segredos da minha vida, das nossas vidas!

Quero buscar o que tem do outro lado dela,

As alegrias dos meus amigos

Se for preciso ajudá-los a desvendar seus segredos

E abrirem suas próprias janelas.

Sejam elas de castelos, barracos ou senzalas, não importa.

Pois na minha vida tive todas elas

Não sei qual delas mais me assustou, se as dos castelos ou das senzalas.

Porém, sei que muitas ficaram fechadas e que o tempo não mais me permitirá abri-las.

Mas virão outras janelas e ainda não sei o que haverá do outro lado delas.

Janelas do passado, fechadas e abertas,

Janelas que vivi e deixei de viver.

Janelas do futuro que irei abri-las ou não

O tempo irá dizer.

Janelas dos segredos que irei ou não contar para a lua

Janelas entreabertas, as janelas da indecisão.

Janelas fechadas. Segredos ocultos ou medo?

Janelas abertas, janelas da vida que o tempo irá fechar ou não.

Lili Ribeiro