Tulipas e solidão

"Sentado à porta

espero as tulipas surgirem

com suas pétalas retas,

exatas

esnobes

perfeitas"

o tempo se encarrega de desmantelar os fantasmas

as cores vivas, já não tão vivas, falecem

chicote-língua açoita meu ventre

e transpiro desejo de ver o que se esconde atrás de minha nuca:

a sua tatuagem com a chave da solução caída ao chão

"As primeiras manifestações de vida das tulipas

brotam como bulbos infectados de peste na relva ruiva da noite.

Sua pretensão em ser flor desafia os pés dos romeiros

que caminham para a Montanha Mágica."

...o tapete, cheio de tentáculos, me agarram, tentando me sugar para um grande rasgo na memória do meu incosciente que se entorpece de loucura para buscar a fuga perfeita

a luta perfeita.

Televisão ligada, altas horas da inclemente madrugada governam

humilham

corpo se retorce

o apartamento ao lado dorme com sua síntese de felicidade

roncam, viram, se amam, se cospem, se matam

mas dormem.

Eu não.

"O corpo delicado da tulipa se revela, tal como a ninfeta revela seu sexo ingênuo para seu estuprador.

As pétalas se abrem como bocas de fome que suplicam carne

carne humana

carne disfraçada de gente.

Seu vapor de sutileza invade as narinas dos romeiros.

Tão bela, seduz os que não são capazes de ser como ele.

A mão áspera do romeiro arranca a tulipa do chão.

No lugar da raiz, um rio de sangue"

Contorcido de incertezas, invado os dias da minha vida com aquela sensação de que nada é o que parece ser,

nada é o que deveria ser,

não somos o que não gostaríamos de ser.

somos solidão.

Antes solidão que tulipa.

Tulipa arrancada do seu seio, rios de sangue

solidão no apartamento, chance de redenção

Você é o corpo que merece ser,

tulipa é apenas uma flor.

Redenção!

Valdson Tolentino Filho
Enviado por Valdson Tolentino Filho em 01/04/2008
Reeditado em 01/04/2008
Código do texto: T926281