TEMPO DE REZA
TEMPO DE REZA
Eu era um descaso do acaso
angariado na contramão de uma grande avenida
Os brilhos dos olhos lagrimantes de saudade
de um tempo escorrido nos relógios
refletiam a esperança do passado
apagada na realidade de um presente sério,
Sou um verso solto
Uma estrofe desconexa
Um tom sem intenção
Sou um eu-lírico pouco idealizado
Idealizador
Desaliterado
A melodia não me encontra
E entre mim e ela
só a vontade de ser um pouco mais sonoros
Armstrong soprar-me-ia entre notas
de La Vie En Rose
melodicamente melancólicas,
O toque das teclas do piano
teriam funções tristes de acompanhares
intrínsecas em saudade
O sol brilha belo
E entre as frestas da janela apodrecida pelos dias
Entra a luz quente, ultraviolentamente,
Alumiando os olhos amarelados do porta-retrato
Nostalgia é ouvir o barulho que o silêncio faz
no tic tac do relógio
Eu não. Sou mais do que isso.
Sou a saudade que a lembrança tem
Sou os sonoros passos lentos, quase mancos
de entes que se foram já, tão cedo de minha vida
Sou os Credos, os Padres Nossos...
Amém.