Flor Escura

Sonhei ver na tevê, escutar no rádio, ler nos jornais,

que a ciência tinha encontrado finalmente a cura da AIDS.

Simples, numa mistura de pólen de enxerto no DNA

de espécies de flores criadas em laboratório ornamentais.

A flor, experiência faltosa, falha genética, buquê Frankenstein,

tenção de coroa dourada, ao bordô misturada em detalhes corais,

saiu uma flor engraçada, escura, enrugada e roxa demais.

Por fim, nas camas das casas, em leitos de morte, nos hospitais,

milhões de pessoas doentes, que mal respiravam terminais

recebem a visita de amores, parentes, parceiros e amigos,

que trazem consigo o buquê da Flor Escura, a cura do vírus.

O gesto tornou-se um símbolo no mundo todo de solidariedade

por aqueles que sofrem sozinhos desesperançosos da enfermidade.