SEM MAIS DIREÇÕES

Eu vou indo... Vou indo;

Lidando com minhas sequelas,

Ingerindo inúmeras drágeas,

Frequentando agulhas

E rindo de minhas impotências.

Parte de minha feição ficou pelo caminho,

Pelo caminho ficou também parte de meu coração.

De sorte que perdi a pouca beleza que me fortalecia

E o pouco amor que me sacudia.

Não sou mais tormenta. Não sou mais demência.

Repouso sereno como olhos sobre flores.

Não consigo encontrar meu sexo;

Não fico afoito.

Não consigo encontrar meu prazer;

Não fico febril.

Por dentro sou manso;

Um barquinho ancorado num lago entre montanhas verdes

Sem movimentos. Quando consigo me mover, movo-me com lentidão.

Não sou mais homem de arroteamentos,

De horizontes longínquos,

De sonhos arrebatadores.

De tantas direções restou-me apenas uma:

- O silêncio derradeiro.