31. Trilha dos Sonhos
Nós, que voamos tão perto de nossos sonhos, compartilhamos de um laço que tange o ápice da vida de todo ser humano
Eu, que alcancei meu lugar ao sol, sinto a exata pontada daqueles que perecem a caminho daqui
Eles, que sentiram o pesado golpe do Destino, sucumbiram de forma trágica perante a Onipotência do Acaso
Compartilho um pouco dessa trilha, e dos andantes que, por aqui, deixaram, deixam e deixarão suas pegadas
São pegadas lamacentas, profundas, salgadas com suor, banhadas, muitas vezes, em sangue
O peso de seus corpos aumenta consideravelmente conforme se aproximam deste centro de gravidade
Centro universal, centro que todos procuram, o certeiro local onde todo sonho se realiza, findando em si mesmo
Um sonho, realizado, morre para que outros tomem seu lugar - são os sonhos que movem, verdadeiramente, uma vida digna de ser vivida
Um sonho irrealizado se petrifica na eternidade da não-existência e é deixado no mostruário da Vida, avisando a todos que por aqui transitam
De que não há sequer um traço ínfimo de Piedade para com nossa miserável, parca, existência
Compartilho um pouco dessa onda, que percorre toda a extensão daquele laço, e me atinge em cheio num dia comum de vivência
Eu, que alcancei meu lugar ao sol, vivi para ver meu sonho morrer e, de suas cinzas, nascerem dezenas mais
Eles, que tiveram suas trajetórias interrompidas à sombra, merecem que joguemos, todos nós, andantes desse eterno caminho, um pouco de nossa luz
Sobre a petrificada estátua, cor de esmeralda, que jaz, aqui, à beira da tão comum, tão procurada, Trilha dos Sonhos