Mil anos...

Compreendo essas casas que dormem

mudas sob o sol do meio dia;

Compreendo esse homem meio velho

que cochila no banco da praça;

Compreendo esse rosto cansado na

mulher que vai apressada pela rua...

Compreendo e nem queria compreender!

Compreendo esta janela aberta deixando

que o sol penetre a sala e beije a mesa;

compreendo essa mudez na casa onde

antes havia alaridos mil e mais alegria;

compreendo essas cortinas que simulam viver

ainda no tempo que eu não compreendia nada...

Compreendo e nem queria compreender!

Compreendo como das bocas das benzedeiras

saiam rezas que secavam arruda no calor da fé;

Compreendo essa estrada que vizinha esta

casa velha que vive a esperar alguém passar;

Compreendo essa teimosa flor que floresce

sem saber se alguém virá ver a sua floração...

Compreendo e nem queria compreender!

Compreendo essa inutilidade do tempo,

compreendo esse lamento dorido do povo,

compreendo essa terra seca pedindo água,

compreendo esses homens, esses pássaros,

compreendo esse barco, esse olhar disperso,

compreendo esse perfume das magnólias que

não existem; esses voos rasantes dos pássaros...

Compreendo porque observo tudo há mil anos!

IVAN CORRÊA
Enviado por IVAN CORRÊA em 28/02/2017
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