Estrela (de)Cadente

(a uma doidivanas)

Eis aquela

Que apontavam na rua,

Que perdeu a cabeça,

A vergonha e a compostura.

A quem todos torciam a cara

Por não ver nenhum futuro.

Que partiu em busca de aventura,

Disposta a vencer de qualquer jeito,

Mesmo a custa da alma e do corpo,

Como dizem: Na raça e no peito.

Eis aquela

Que foi procurar outro porto

Onde a ninguém importasse

A vermelhidão do rosto.

Um vento sul, surdo e cego,

Soprou a estrela (de)cadente,

Que num último espasmo, num flash,

Conseguiu cegar essa gente

Que a tudo facilmente esquece.

Ex-amigos, novamente amigos,

Voltam a louvar-lhe beleza e dons.

Não mais defeitos, são perfeitos

Imagens, gestos, ritmos e sons.

Por não ter memória nem pejo

Todos se rendem, se vendem,

Mendigam um cumprimento.

Só eu, que de longe a tudo vejo,

Esquecer não posso nem tento.

Jota Garcia
Enviado por Jota Garcia em 05/03/2017
Reeditado em 05/03/2017
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