A POESIA

A poesia nobre

escapa por entre os dentes

da rainha e ela que canta aos pobres

suas doces odes

mal sabe que a poesia nasce em ramas

nos suntuosos palácios ou nas camas

onde o lobo e cordeiro

trocam cheiro...

A poesia rude

(em pensar nisso nem sei como pude)

vez da raiz plantada no ramoso chão

passa por entre os dedos grossos

do poeta de então

aquele que colhe figos na triste terra madura

e que saboreia-os no centro da noite escura

como casca de jabuticaba

essa poesia renasce a cada dia

e nunca acaba...

A poesia descreve círculos concêntricos

e pousa sobre a mansa página

ou sobre o cavalo fogoso

do audaz escrevente

que vocifera versos

(como a rainha)

por entre seus dentes...

A poesia

(quem se interessa?)

é puta que se presta

a coitos intermináveis

com a língua da tinta

que lhe refestela...