NUVENS NASCENTES

Esta segunda-feira soube dar o seu jeito,

ajudou no desembaraço

dos entes que ansiavam existir.

E de fato, existiram nesta segunda:

a terceira dentição do idoso;

a sombra da árvore anã,

que nunca entendeu tamanhos;

o apetite do cupim do concreto,

depois de cavar o mundo,

chegou à madeira do castelo europeu.

Eternidade.

Eu percebo o jogo desta segunda.

Ela soube ajeitar

a entrada do sol pela fresta,

soube clarear a parede laranja

até me fazer concluir:

a luz passou por aqui

e devo criar as metáforas

do meu bem estar no mundo,

do ser cavaleiro solar entre palácios,

longínqua puberdade permanente.

Esta segunda-feira de seu jeito especial,

veio urgente para mim,

Vênus de Millo a pregar-se em minha memória.

Ofereceu-me os seus braços ausentes,

e a sua antiga mão direita de brinde,

quando então tudo mais se alterou.

O amor tornou-se,

na semana que se abriu,

os meus 18 anos adolescentes,

idade contínua.

Esta segunda-feira do seu modo,

lançou-me o concerto musical do domingo,

a expectativa da terça disponível,

da quarta-feira no meio do salão

em seu baile sem fim.

E isto será sempre um início à dança.

Hoje é segunda-feira de manhã

e daqui a seis horas

- entre os meus dentes, entre nuvens

sob abóbada celeste

e outros solariums –

ainda estarei ativo.

DO LIVRO: "ADVERSOS E OUTROS MOMENTOS"

Paulo Fontenelle de Araujo
Enviado por Paulo Fontenelle de Araujo em 29/06/2017
Reeditado em 03/08/2020
Código do texto: T6041075
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