FLOR DE LOTUS
São dez da manhã
Tem alguém em casa?
Eu acordei chorando
Tive um sonho ruim...
Vi a vida passando por mim
Eles se foram sem avisar
E por mais que eu corresse
Só alcançava o ar
Eu cansei e caí da escada
E quando avistei aquelas faces
Acreditei que fosse milagre...
Me rodeavam, mas sem me olhar
Era somente um assalto...
Bem sei, não foi caso pensado...
Eles só não souberam notar
Mas quem é sensível
É quem mais sente...
E a nossa mente
Por mais que tente
Não sai da caixa...
Pesadelos viram espelhos
Ninguém é digno de confiança
É o que acontece
Quando se é adulto ainda criança
E já não nos permitimos sonhar,
Não, não podemos errar...
Niguém me tirou de lá
Daquele penhasco
Que só eu posso escalar...
O céu não tem estrelas
Os beija-flores se tornaram corvos
Corroendo meu corpo
E se afastam demais
Pra revirar seu vômito...
Quando me vê, o sol se esconde!
Ninguém é meu amigo!
O amor não vai ficar comigo -
Em quem eu posso acreditar?
Ninguém devolveu as minhas vestes?!
Ninguém percebeu que fui roubado?!
Ao contrário...
Os espectadores me aplaudiram...
Com tomates podres e grãos de milho!
No meu silêncio, nutrida...
Braços cansados
De lutar pra nada
Numa ilha de lama
Eu floresci...
Sete
Quatorze
Vinte e um
Vinte e oito
Trinta e cinco...
Flor em si...
Chega!
Pronto!
Prosa e poesia
Tristeza e alegria mistas
Já não me assombro
Abri o conto...
Aos capítulos dos sonhos.