Dona Maria da tapioca

Na frígida noite caruaruense

Com vista à praça da prefeitura

Uma senhora de vários anos trabalhara

Na esquina da farmácia, semblante repleto de ternura

Lenço branco e avental,

cabelos pintados pela cor do tempo

Mãos calejadas coziam massa tradicional

Decerto aquilo lhe servia de passatempo

Ao descer do ônibus, a cena logo me atraiu

Como pode alguém de tanta idade

Superar suas próprias adversidades

E servir deliciosa tapioca, confesso-lhe a verdade

De início, evitou conversa

“Aliás por que a você meu trabalho interessa?”

Passaram-se noites e conversamos a beça

Voltei outras vezes, ajudei com o calço do banco

Noutras até as brasas do fogo fui abanando

Contou sua história sofrida, serenamente suspirando:

“Vou morrer vendendo tapioca, faço isso há anos”

Nos tornamos amigos e a fazia companhia

Enquanto confabulávamos, eu varria o chão

Deixei-me levar pela minha mania

De não aguentar ver solidão

Já faz uns dias que por lá transito

E sinto falta do estalido

Do carvão quente no fogão

Espero que algum dia

quem sabe, em diversa esquina da vida

Eu possa comer daquela comida

Tão macia, feita com alegria

Pelas mãos de Dona Maria.

Henrique Miranda
Enviado por Henrique Miranda em 16/08/2017
Reeditado em 17/08/2017
Código do texto: T6085518
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