OS ANDARILHOS
Os ventos livres sacodem os cabelos;
As lembranças, os bons tempos vividos;
Os colibris, as flores dos jardins coloridos;
Os amores, os incondicionais desvelos.
Os andarilhos vestidos de trapos
Convivem com a fome e a sede constantes,
Serpentes, aranhas, escorpiões, ratos...
E uma expressão de apatia no rosto;
Caminham sob o sumo império solar
Em companhia da poeira das rodovias;
Caminham sem parar, alegres ou tristes,
Na pungência do solitário pesar
E do grito sufocado de desgosto,
Esquecidos, abandonados e sacudidos
Pelos ventos mutantes que sopram livres,
Ora quentes, ora moderados, ora frios,
Nas paisagens despidas de poesias,
Saqueadas pelos gatázios da desilusão
Que vicejam no mundo dos viandantes.
A poeira que se levanta do chão
Atesta a rusticidade das caminhadas
Em direção aos rios secos e extintos
Dos campos desmatados e vazios,
Reflexos das paisagens devastadas
No cenário deserto da alma em ruína,
Onde a terra é habitat de vermes famintos,
Espalhados pela finita imensidade poluída.
O céu é o albergue das nuvens retirantes
Nas horas azuis das manhãs cálidas;
Nas horas escuras das noites pálidas
É a estalagem das estrelas cintilantes.
A poeira das roupas dos andarilhos
É como a cinza dos sonhos mortos,
E os perigos iminentes dos caminhos tortos
São os seus imprevisíveis e queridos filhos.