OS ANDARILHOS

Os ventos livres sacodem os cabelos;

As lembranças, os bons tempos vividos;

Os colibris, as flores dos jardins coloridos;

Os amores, os incondicionais desvelos.

Os andarilhos vestidos de trapos

Convivem com a fome e a sede constantes,

Serpentes, aranhas, escorpiões, ratos...

E uma expressão de apatia no rosto;

Caminham sob o sumo império solar

Em companhia da poeira das rodovias;

Caminham sem parar, alegres ou tristes,

Na pungência do solitário pesar

E do grito sufocado de desgosto,

Esquecidos, abandonados e sacudidos

Pelos ventos mutantes que sopram livres,

Ora quentes, ora moderados, ora frios,

Nas paisagens despidas de poesias,

Saqueadas pelos gatázios da desilusão

Que vicejam no mundo dos viandantes.

A poeira que se levanta do chão

Atesta a rusticidade das caminhadas

Em direção aos rios secos e extintos

Dos campos desmatados e vazios,

Reflexos das paisagens devastadas

No cenário deserto da alma em ruína,

Onde a terra é habitat de vermes famintos,

Espalhados pela finita imensidade poluída.

O céu é o albergue das nuvens retirantes

Nas horas azuis das manhãs cálidas;

Nas horas escuras das noites pálidas

É a estalagem das estrelas cintilantes.

A poeira das roupas dos andarilhos

É como a cinza dos sonhos mortos,

E os perigos iminentes dos caminhos tortos

São os seus imprevisíveis e queridos filhos.

Carlos Henrique Pereira Maia
Enviado por Carlos Henrique Pereira Maia em 14/09/2017
Reeditado em 18/09/2017
Código do texto: T6114017
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2017. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.