Trevo ou trevas

Trevo em suas trevas

Nas trevas de um trevo

Na sorte, que em quatro folhas

No sofrimento de um desespero

Na escuridão de um rio vazio

No azedume de um vespeiro

No coletivo de um cardume opressivo

Na solidão de um brio cativo

Nas luzes turvas de um puteiro

Nas noites frias, silenciosas

Nas ruas, caminhas, na insônia nossa

Na sobre-vida, no sobre-viver

Na fuga, e a morte em cada mil

No jazigo de um trevo

Nas trevas de uma vida morta

No destino, num funil

Na sorte de não ser agora

Na morte, que deixou pra próxima

Nas trevas, de estar em todo lugar

Nas luzes que se apagam em cada pensar

Em cada respiro dado, continua a contar

No espelho que enxerga vida

Num sonho real, que, nas veias, irriga

Sem fronteiras diante da loucura

Diante da humana procura, uma saída

Diante e logo adiante apenas a morte

E logo aqui, na pele, onde mora a vida

Ainda mora, porque está de partida

Trevos e suas folhas

Que soltam e caem sozinhas

Nas trevas que carregam

Se tem sorte, é porque tem briga

Se não tem segurança, segura e lida

Com a insegurança que a mão abriga

Que escorrega e desliza

Com ou sem trevos

Com ou sem trevas

Sem destino, é o que queria

Mas se quer, é porque ainda precisa ter

Porque ser incompleto ilude e muito o ser

Que precisa completar-se, à sede, à fome

Que precisa prosseguir, mas está sempre aqui, e vê

Que o sentir é uma distração

Que precisa do tempo, que não é em vão, acredita

Que não será em vão