Ninguém
Eu me faço a pergunta do motivo de estar aqui
Mas talvez eu não esteja enganada de estar aqui
Este sentimento de não saber o que fazer percorre ao fundo de mim mesma
e à minha volta ninguém sabe o que fazer
eu não sei o que quero e ao meu redor ninguém sabe o que quer
É um medo que cala fundo em todos nós
estamos completamente à deriva
sem saber a direção, sem saber que rumo tomar
ainda que possamos topar com um olhar sincero que às vezes acontece, neste minuto mesmo aconteceu,
sinto que eu sinto
sinto que nós sentimos que nos assusta e não é o bastante
esta sinceridade, que da onde vem, nunca poderíamos supor receber
e não nos damos
apenas se desliza um alívio reconfortante que é abruptamente amordaçado e esquecido ao léu
perante nossa extrema urgência de mudanças e enorme impaciência com nossos medos que insistimos em levar adiante
falo no plural porque não sou só eu
hoje isto ficou muito claro para mim
e volto a me questionar o por quê de estar aqui
mesmo que eu não queira pertencer aqui, eu de fato pertenço a este lugar
e mesmo que eu queira ir embora, eu ainda permaneço aqui
e só hoje comecei a pensar em como poderia contribuir com as pessoas que aqui estão
atoladas na burrice, eu sou só mais uma parte delas
Não vejo contentamento em ver o que vejo
e nem fazer parte de coisa alguma estúpida
É verdade que nego e me renego
o que sou e onde me encontro
mas sou exatamente o que sou e o aqui faz parte de mim
criticamente me encerro em mim mesma
e ora pareço ser maior que o todo, ora pareço ser menor que o todo
o fato é que entre o que sou ou o que penso ser, e o externo que me cerca
existe uma vida desconcertante que não paro de me fixar
abelha burra querendo só o mel da vida
esquecendo-se de se juntar ao abismo
e cair sem sucumbir
retomando o sublime que não está visível e é difícil, mas que está em nós
tão profundo e tão tímido
como eu me julgo ser e não me aceito
tenho apenas pequenas e curtas epifanias
e então a alegria e o orgulho me assaltam
e com eles
toda uma rebordose vem
gerando o fruto de puro desamor
que eu calo e ningúem suspeita.