FUTUROS E PRETÉRITOS
Não há mais tempo
Para viver meu futuro
O fim me assola em luto
Por já não poder
Ver meu sonho alçar.
Perdio-o na procrastinação do delírio
Fugindo nas fissuras dos dedos
Como areia em vãos momentos
Desvanecendo no ar.
Não há mais tempo para mim
Que tanto adiei as carícias da vida
Por receio da força do soco
Que antecede ou provêm de seu gozo
Quando se faz fruir a promessa.
As horas extras na labuta diária
A privação dos pequenos anseios
Os filhos que não vi crescer
As viagens delongadas
E as estadias não demoradas.
Tudo
Me acena
Circundado da vazia razão do arrependimento.
Enriqueci-me do ouro dos tolos.
Pauperizei-me do que não se põe preço
Pois possui em si
O próprio valor - o qual não percebi a tempo
E neste momento me tem maior valia:
Mais dolorosa a perda
Do que não tive mas pudera.
Para tanto
Vendi
À prazo - a força de meus braços
Pus vinco à minha testa
E o tempo me tingiu os cabelos
Do mais sugestivo grisalho.
Tinha sede - neguei-a
Tomei por senda o dócil fastio.
Quis viver um sonho eterno
Temendo a revelação
Do sonho findo.
Morri no pretérito
Com meu corpo feito um pacote
De inércia
Esticado
Em meio a fila de espera
Embalado pela expectativa
E seu gosto de pecado impune.
Oh, vida! Minha vida!
Que faço eu para matar tua fome?
Que faço eu para desvendar
Da tua duração
O nome
Que pulsa desde a minha primeira
Descoberta em vida
Que em meu primeiro olhar
Se revelou:
Minha vida!
Onde a noite é impura
E o sol não vejo
Somente uma lâmpada
Fara eclodir tal desejo:
Por reparo à tua face
De fome e medo
Fazer ruir teu império
Bradar teus segredos.
A verdade me trescende a causa
Perde-se a validade
Das lutas intangíveis.
As coisas
Hoje estão claras
A ponto
De nos cegar.
Tomo consciência
De que perdi o último coletivo da noite
(Melhor
Dizendo)
Deixei-o passar.
Terei de ir caminhando
Gastando a vida que me resta.
A manhã se atrasará
Fora dos ponteiros.
E a noite não será como
Quisera eu
Que fosse.