O Mundo
Da minha casa bem pouco eu posso falar
Pouco é o meu muito, muito é o pouco do que se pode dizer
Minha casa é muito grande, como os olhos que naquilo eu posso ver
Já é tanta coisa para se ver, já não vejo o jeito de poder ver
Para cada coisa da vida, há sempre uma outra para a completar
Para cada coisa concreta, uma regra indispensável para a explicar
Mas há coisas que nunca mudam e, não podemos externar
São os olhos que me trazem à luz, que para vida me fazem elucidar
O mundo é enorme, eu olho para os lados, e acima e, faço isso de novo
Eu vejo os vermes lá em baixo, vermes entres os vermes
Eu sinto que eles estão na minha pele, eles me cobrem por cima
Eles têm bocas enormes e, falam sobre tudo, mas nada sentem
As larvas estão por todo canto; nos veículos, nas ruas e calçadas, e no rádio
Deixam seus rastros pelo caminho. Eu estou no meio delas
Às vezes me sinto sufocar; sinto uma corda no meu pescoço
Sinto suas mãos, as mãos da morte, das larvas, dos vermes
Minha casa é o mundo; cheio de vermes, cada um corre por sua vez para sugar.
A poesia da terra se acaba, acaba o seu fulgor, acaba sua alegria, seu calor esmaece.
Minha casa está morrendo pelos parasitas, nossas matas, nossos bichos, nosso poema
O sol já se deforma, os ventos se revoltam, a chuva está zangada, e a terra não produz alegria
O que será da terra quando todos os sonhos se realizarem?
Quando os milhões de sonhos de consumo se concretizarem?
Quando os bilhões de intentos se consumarem à medida de um verme?
Quando a fumaça cobrir o sol, secar-se a água, e a terra não der mais alimento?