TrÊs

I.

todas essas semanas

e o bloqueio criativo ali,

na pontas dos meus pés

me impedindo de caminhar

sem a presença de uma terceira perna

saco o isqueiro do bolso,

acendo a terceira perna,

fumo a terceira perna,

que vira cinza.

(ela renasce).

os olhares deixaram de ser acidentais.

aceito que tenho três, quatro, cinco, oito pernas

sou uma aranha com uma perna a mais a cada dia

ando desajeitamento, mas aprendi

a caminhar com elas

quando mais ando,

mais as pernas se desgastam

e vou perdendo o equilíbrio

até que todas elas se dissolvem

e só me restam duas, (comum a maioria dos humanos)

agora devo reaprender andar sobre elas.

II.

já com a forma humana recuperada,

tento lembrar como funciona o caminhar.

tento fazer o caminho inverso.

tento olhar o avesso.

me fecho por dentro,

me fecho em mim mesma.

(há uma única fresta de luz que entra pelo canto de meu olho esquerdo).

III.

questiono-me se a terceira parte

deve ser sempre sobre o fim.

questiono-me se sequer dever haver

uma terceira parte

ou se ela é apenas um apoio,

uma bengala, descartável

como a terceira perna.

velours
Enviado por velours em 22/01/2018
Código do texto: T6232751
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