A Bengala e as Muletas


Caminham juntinho os pés, cada vez mais inseparáveis
Encolhidos, doloridos nem pensam se dar ao direito e parar
Contam, um os passos claudicantes e arrastados do outro
Dependem deles o sustento do resto de um corpo fatigado
Que nestas alturas dá mostras de necessitar, também descansar.

A cabeça, pensante pensa, mas se engana! ... é voto vencido
Contenta-se apenas com ecos murmurados da servidão
Recorre á sabedoria, que parou e tenta descansar por um tempo
Não, na verdade não é nada disso, é pura estratégia á espera dos pés
Que apontam bem longe, numa reta quase infinita abafando o coração.

Os intervalos imóveis vão ficando cada vez mais alongados e sofridos;
Curtos, se apagando e ficando para traz, amontoam-se planos e projetos
Dominando, o cansaço periférico cresce, ganha forças e se agiganta
Dores se fazem companheiras inseparáveis e os pés, estes juntaram-se de vez
Se negam prostrados á dar mais um passo, firmam calcanhares no duro concreto.

Teve que ser assim e o dia chegou, a vida partiu e o extra acabou
A visão embaçada vislumbra um ponto, onde nunca mais vai chegar
A dor cresceu, o cansaço venceu, o corpo gelou, o sonho morreu
Agora no mesmo cantinho encostados a Bengala recebe visitas,
A companhia das muletas sem dor, sem porque prosseguir
Desobrigadas, sem mais a quem conduzir!