Nos recônditos d’alma
Conte-me seus sonhos
Conte-me suas aflições
Dos desvaneios enfadonhos
Que roubam-lhe as ambições.
Como unir minh’alma à sua?
Para que eu sinta sua dor,
Removendo a voz que se insinua
Irei conduzir-te a um destino indolor.
De tudo quanto possa aparentar,
Eu sei que nunca bom julgamento me fará.
Sei que tenho sido bem impertinente,
Aceito meu destino, tenazmente.
Dos agouros passados e vividos,
Muitos e muitos foram esquecidos,
Talvez porque fosse demasiado dolente,
Ou porque fosse deveras sem graça,
Vem, corra para meus braços e me abraça!
Traga tudo o que deixei negligente.
O que deixaste para trás
Para seres quem és?
Deixaste de estender a mão ao necessitado,
Ou acolheste ao pobre desabrigado?
Vede que todos temos demônios amigos,
Que vivem enclausurados no peito.
Que nos motivam a crimes escondidos,
Que se revelados, nos matariam, com efeito!
Não se escondas para sempre
Sou vil, miserável e prepotente.
Preciso do seu ombro para acalentar a
Minha’alma que não posso salvar.
Conte-me seus sonhos
Conte-me suas aflições,
Traga-me suas venturas
Leva-me as amarguras.
Só não espere que um milagre aconteça
Porque o espírito que vos fala, talvez pereça.
Não tenho medo do descanso póstumo,
Tenho certeza que gosto, aposto!