Era uma vez ... ... Eu
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Era uma vez eu.
Era... quase sempre
bem ou mal
mas de um jeito
que me parecia meu.
Era como caminhar
e uma quantas vezes
aos trambolhões.
Era, contudo,
aquele ritmo
dos meus passos
no mesmo compasso
do coração.
.Era uma vez,
e como só mais uma,
a estática resignação
que se resguarda
num nicho como eu
ou numa ave qualquer,
quiçá numa gaivota.
...Tanto quanto
se acolhe a chuva
que escorre pelo corpo.
E era sempre assim
ou menos ou mais
até me cruzar
com aquela anciã.
Ela falou-me
e o tom era familiar:
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- Sê bem-vindo, viajante!
Pousa por aí o teu cansaço; Anda!
Vem! Repousa na minha alcova.
Sei bem quanto prezas
esse destino de exaustão;
quanto despeitas, todo,
esse sentir encurralado
quanta nostalgia filtras
da ideia terminal de um Fim!
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Pois era e foi só uma vez
de um jeito que até pareceu
uma velha cena... ritual pagão
numa encruzilhada
com atributos de abrigo.
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Era a minha vez de alcançar
aquele entreposto bizarro
em que pairava tão-somente
uma dúvida vital
como busílis de um umbigo.
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Era precisamente dali
daquela ideia de resguardo
que me faltava
um qualquer superlativo.
E era um sorriso,
como que pela ideia feliz
de uma Santa de Calcutá.
Então eu sorria
e a velha morte (sim!) também,
essa vez que era comigo;
e mais, a morte contava
como não era mais que uma fada,
e, mansa, ali cantava
para mim o seu fado.
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Era um vez, um entretanto,
ou uma conta certa de passos,
banalidades de andarilho
daquelas que se arremessam
ao caminho, uma após outra,
uma aqui, outra adiante.
É agora a vez presente
e de mais nada que me rale
nada que me atrase
ou me adiante.
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_______________________LuMe
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