Viver, apesar do medo

Eu tenho medo de que a vida passe tão breve quanto uma viagem de trem, e que eu, tão distraída com coisas banais, não contemple as lindas paisagens que Deus desenhou e que posso avistar pela janela.

Eu tenho medo de que meus pés extenuados desistam da caminhada antes dela chegar ao fim e não percebam que eu posso parar para descansar, e que pausas não significam desistências.

Eu tenho medo de que as derrotas, as dores e as decepções me impeçam de sonhar, de traçar novos planos, estabelecer novas metas e que eu não perceba que mudar a direção não é o mesmo que estagnar.

Eu tenho medo de olhar demasiadamente para todas as coisas que perdi, para outras que não foram conquistadas e assim cegar-me à tudo o que me foi dado, não dar importância à todas as pequenas batalhas vencidas, às vitórias alcançadas.

Eu tenho medo de que as críticas sejam excessivamente injustas e que ao invés de me levar ao amadurecimento, me façam perder a essência do que sou e me distanciem de mim mesma.

Eu tenho medo de correr demais contra o tempo e descobrir, tarde demais, que o tempo não perdoa quem luta contra ele.

Eu tenho medo de que as palavras sejam tão cruéis, que me tornem insensível diante da doçura e da suavidade de uma poesia.

Eu tenho medo de não ter medo, e ao não tê-lo, não me fazer atenta aos detalhes, e imprudente arriscar-me demais por coisas sem importância.

Eu tenho medo de temer em excesso e ser tão prudente ao ponto de paralisar-me.

Eu tenho todos esses medos, mas sou especialista em fingir coragem e, ao fingir que eu a tenho, me sinto confiante o bastante para agir apesar de todos deles.