NECESSIDADE E PRECISÃO

Me respeite, amor...

Tu invades o meu quarto e eu,

em minha noturna solidão,

te vejo a pregar fotos nas paredes,

a escrever poesias com gosto de sangue,

a rir, descabelado, e a dançar,

a me dizer que cumpre o que deve ser cumprido,

e eu, disfarçado de quem não sabe de nada,

sinto a proteção ir-se embora, fugitiva,

(o anjo alado que nos acompanha),

e eu, a sós, contigo, aprendo

que a vida tem mais mistérios

que a minha caixa de memórias

cheia de sonhos estéreos...

Sabes que cumpri alguns ritos

e outros, como quem mente diante do espelho,

fiz que fiz e fui embora deixando sentimentos

desacordados, lençóis em origami,

as contas que não paguei

cobras-me agora

o que devia saber e não sei...

Tenho todo o peito em azul celeste,

sabes que preciso de mais uma dança,

que a guerra da carne é inevitável

e que todo homem precisa

urgentemente de ti,

justo que és,

preciso como uma adaga,

fino bico de mel untado,

de colibri...