BOLHA VAZIA

Poema do Volume "Colóquios Sobre o Tudo e o Nada".

Para a fonte jorrante que jorrou (criou)

todas as coisas.

Pois bem. Me ensinaste

Tuas lições de bordão mudo, escuro,

Nenhuma voz ouvida.

Ser benevolente, amar, amar.

Mas amar o quê? A mim,

Ao outro que é tão longe,

Os poros não se tocam preenchidos

De ar e inocuidade fria.

Mal conversas ouço além de dígitos

De um aparelho eletrônico.

Serás tu um velho catecismo!

Um achaque já pronto a quedar-se,

Cansado, ultrapassado, tardio

E que nada mais satisfaz e preenche

Além da melancolia de eu ter ainda

De me despegar -- o último apego,

O último a me afiançar confiante?

E ter com os olhos encharcados

Ainda de te sepultar,

Ó, Deus, ó, minha essência que tal

Existe inexistente.

Fernando Munhoz
Enviado por Fernando Munhoz em 18/07/2018
Código do texto: T6393820
Classificação de conteúdo: seguro