O Silêncio Das Horas

E foram-se os dias

Passando assossegados.

Nunca perguntei ao tempo

Quantos de nós ele levaria.

Aquele chão de terra batida

Do qual corria a chuva

Formando verdes limos

Não sei se ainda guarda os pés

Das crianças que por ali ficavam

Nos fins de tarde

Enquanto o sol, vagarosamente

Escondia-se por detrás

Do horizonte de casas.

Foram-se os gritos das mães

Em busca dos ouvidos

Quase que rebeldes

De suas crianças —

E hoje não há mais crianças

E talvez nem haja suas mães.

Aos que acordavam cedo

Havia um galo que cantava

Todas as manhãs.

Era indício de um novo dia.

Éramos postos pra fora de casa

Logo cedinho, ao aquecer do sol

Enquanto as mães às limpavam.

Horas e horas de discussões

Sobre os casais de telenovelas

Quem havia deixado a rouba na pia

Que havia do lado de fora

Ou sobre os cães que latiam às noites.

Em dias de chuva, ficávamos em casa

Olhando pela janela

Na esperança de que ela passasse

Após fazer subir aos céus

Aquele cheiro de terra molhada.

Na esperança de que houvesse tempo

De brincar meio à lama.

Mas foram-se embora os dias.

Foram-se os vizinhos.

Foi-se o chão de terra batida —

Que agora é de pedra.

Foram-se os cães barulhentos

E o canto do galo

E as rodas de ciranda

Junto com toda inocência

Que tínhamos.

Foram-se os dias

As semanas

Os meses

Os anos.

— Foi-se uma vida.

Um Rapaz Meio Estranho
Enviado por Um Rapaz Meio Estranho em 01/08/2018
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