Ajustar os ponteiros

O ponteiro do meu coração desajustou

Estava estraçalhado, mas funcionava bem

Ele, apesar de pisoteado e ter suas ferragens expostas

Ainda dava para ouvir o tic taquear

A depender da posição que olhasse

Via-se uma cara triste, alegre, sonhadora

Mas, a mais comum era de dor

A cada movimento

Descobriu que se aquietasse nada sentia

Mas todos sofriam

Por que o dia não passava com suas horas

E agora? Os prazos já não existiam

Ninguém saia de casa, do trabalho ou da madrugada

Ninguém se declarava

Ninguém brigava

Nada existia

E de dor em dor

O relógio pulsava

Para que tudo continuasse a existir

Os jornais voltaram a circular

As crianças comemoravam a chegada dos pais

E um relojeiro chegou

Ajustou os pontos finais

E a dor sumiu

Tudo tornou-se passagem

Agora, o que fica é a nostalgia

Porque, tudo passa rápido demais

Adriane Neves
Enviado por Adriane Neves em 08/08/2018
Código do texto: T6413583
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