Adolescência
Sergio Furtado


Como uma estrela cadente
passou minha adolescência,
queimando a alma dolente
em trajetória de fogo.
Na mochila incertezas,
que não queriam ser tiradas.
Com a paixão à flor da pele
a vida era chatura,
coroada de vigor.
O céu e o inferno
eram cúmplices,
com fogo e serenidade.
Desatinos flutuantes
navegavam por rio bravio
em suave demência.
O futuro era a margem,
enquanto o rio
corria célere
e o vigor me impelia
a remar contra a corrente.
Nessas águas desastrosas
tudo era difícil:
pais, irmãos, autoridades,
o acaso e a luxúria embutida.
Mas, plena era a conquista!
Paixões que desconhecia
sangravam meu coração.
Enredado em malfadada teia
me debatia qual presa imóvel,
prestes a ser devorada.
Como me livrar
se a teia me sustentava?
Só restava uma saída:
aguardar a maturidade.
As melhores das lembranças
são as masturbações homéricas.