Ainda navego
Navego águas enegrecidas e mortas,
E o grande culpado sou mesmo eu.
Mas como vou saber o caminho certo
Se algo tão importante, aqui dentro, já se perdeu?
Meu coração era minha bússola
E em sussurros ternos ditava a direção,
Até ser completamente esvaziado
Pela violência insaciável da decepção.
Mas ainda navego...
Carrego comigo nessa jornada
Tesouros tão vastos quanto o mar,
Mas que, guardados dentro da alma,
Serão desperdiçados, sem ninguém para contemplar.
Tantos tentaram navegar ao meu lado,
Dizendo sempre saber a direção.
Mas ao por do sol, me vejo sempre sozinho,
Navegando amedrontado em meio à escuridão.
Mas ainda navego...
Algo dentro de mim diz que nunca vou encontrar o caminho,
Que minha sina é navegar desamparado,
Porém mais vale navegar perdido pelo mundo,
Do que passar toda uma vida ancorado.
Compactuo com pessoa e com os antigos marinheiros:
navegar é preciso, Viver não é preciso
Pois é melhor encontrar a morte na jornada
Do que estar morto enquanto se está vivo.
Ainda navego...