O otimista

Nada mais inútil que esforçar-se à memória,

Fazer-se dela refém.

Feliz quem tudo esquece.

Nada mais irritante que os conselhos de outrem:

"Supere", me suplicam.

Mas caminho com ânsia às memórias.

Suponho que haja uma razão em todos,

Cada qual com a sua.

Suponho que, na vida, seja tudo inútil.

Suponho, portanto, que não devesse eu,

Partidário cético da existência,

Pôr-me a lamentar uma traição,

Pois assim as coisas humanamente se encaminham -

Ausentes de sentido e bondade.

E se não ajo deste modo; ou, pior:

Se espero que mo façam distintamente,

É por tolice e ingenuidade - nada mais.

Consolo-me com a ideia da tragédia

Como característica de uma vida,

Se não bem vivida,

Deveras interessante.

Ainda assim, não há dia o qual desejo viver.

Sou, todavia, otimista,

Pois levanto da cama, sem porquê.

Charles WP
Enviado por Charles WP em 03/11/2018
Código do texto: T6493166
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