SUBMERSOS

Se não houvessem mais crianças,

a última criança seria a mais amada.

Se desaparecessem os idosos,

o último seria o mais querido

Se chegasse o fim dos homens,

armaduras com seus pontos de Adão,

o último seria proclamado

algo transcendental.

Se atinassem a redução das mulheres,

a última seria mitificada,

deitada em um jardim luminoso,

tudo se disporia neste contorno basal.

(O mundo tem o amor e beleza

medidos pela desaparição).

Se a pele negra sumisse,

o último negro receberia a benção

de um Deus branco vexado,

afetado pela perda.

E se a pele branca esgotasse,

somente no último branco,

a transparência seria a fronteira

para a desafetação de viver.

E se deixassem de existir poetas?

Respondo.

Somente os poetas permanecerão.

Há poesia em todas as obras:

na fórmula química,

na forma parafuso

na canção atonal.

Mas se mesmo assim imaginarmos,

o fim dos trovadores;

a última rima,

pela falta da musa,

todos então perguntariam:

“Eles mexiam nos mundos?”

"Existia poesia no fundo, no submerso?

“O abismo era povoado?"

E dessas perguntas tudo renasceria.

Elza Viana Araujo
Enviado por Elza Viana Araujo em 05/11/2018
Reeditado em 25/11/2018
Código do texto: T6495445
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