Sobrevivendo (à maneira de João Cabral )

A Severina perdeu tudo na última enchente,

Mas não perdeu a esperança (mania de gente).

Vive invisível nas Ilhas do Guaíba,

Catando esperança, reciclando fé.

Na Vila da Paz (cansada da guerra)

Clamando por sossego;

No bairro Progresso (sem nenhum futuro)

Pedindo emprego.

A Severina não está nas redes sociais,

Ela é personagem de si própria:

A vida é real fora da tela.

A mente cheia de dúvidas,

O bolso repleto de dívidas,

O coração imerso em saudades,

Na barriga, mais um filho.

De dia, um esgoto a céu aberto,

À noite um céu sem estrelas...

Na parede, sem reboco,o quadro do pai, já morto,

Parece interrogar: - Valeu à pena, menina?

O silêncio é a sina de uma vida severina.

Alexandre Lettner
Enviado por Alexandre Lettner em 01/12/2018
Código do texto: T6516747
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