Sobrevivendo (à maneira de João Cabral )
A Severina perdeu tudo na última enchente,
Mas não perdeu a esperança (mania de gente).
Vive invisível nas Ilhas do Guaíba,
Catando esperança, reciclando fé.
Na Vila da Paz (cansada da guerra)
Clamando por sossego;
No bairro Progresso (sem nenhum futuro)
Pedindo emprego.
A Severina não está nas redes sociais,
Ela é personagem de si própria:
A vida é real fora da tela.
A mente cheia de dúvidas,
O bolso repleto de dívidas,
O coração imerso em saudades,
Na barriga, mais um filho.
De dia, um esgoto a céu aberto,
À noite um céu sem estrelas...
Na parede, sem reboco,o quadro do pai, já morto,
Parece interrogar: - Valeu à pena, menina?
O silêncio é a sina de uma vida severina.