Enquanto o Céu Sangrava

Os anjos me perseguem incessantemente.

Talvez eu seja um demônio fugitivo,

Ou talvez quem sabe, eu seja o princípio do fim mais tenso

Nesta noite densa em que o Céu Sangra como os cortes em meus pulsos.

O abraço daquele urso me confortou bem mais que o abraço de meu pai,

Àquele cara que me chamava de filho nunca quis me ter por perto,

Eu sempre fui o que sou hoje, um estorvo, um erro cometido na madrugada fria

Porque se aquecer nunca foi uma opção, mas sim necessidade.

Os mortos me visitaram esta noite passada e sentamos perto de uma fogueira,

Desabafei meus medos, minhas incoerências, meus devaneios e minhas mágoas;

De gente da minha gente. Gente que me dilacerava enquanto pronunciava palavra por palavra

De menosprezo, falsas verdades e um ódio justificado: nunca fui de apanhar calado!

Bebi da água do mar um dia desses, e enquanto o Céu Sangrava outra vez eu me despia do mau que me fez o ódio, do ódio que me fez mais bem do que mal,

Dos sonhos que estilhacei na parede daquele quarto, trancafiado enquanto livre, rodeado de hipocrisia e semblantes tediosos, nunca foi notado, mas hoje me fiz notório.