As múltiplas facetas da noite
Meia-noite e trinta;
Sabe-se lá quantas vezes eu me revirei na cama
Numa tentativa frustrante de solucionar os problemas
Que minha própria mente pinta
E por mais que eu resuma em ideias sucintas
Em menos de segundos, os quatro cantos da minha psique
Estão cheirando a tinta.
Resistir e idiotice
— Se é pra sentir...que sinta!
Levanto e me direciono à janela;
O silêncio lá fora, permeia.
Postergando o sono em parcelas;
Observo o clarear da lua cheia.
Procuro algo pra me distrair
Ou algum ruído pra me concentrar,
Qualquer coisa pra coibir
Os desencontros do meu pensar.
Qualquer coisa capaz de me coagir
Ao efeito de sopitar.
Cachorros à ladrarem em segundo plano
O som de um cargueiro, lá nó fundo, passando.
O tic-tac do relógio na parede da sala,
O cricrilar do grilo que não para,
Parece disputar com alguma cigarra... pentelha.
E um gato à me azucrinar bem em cima da telha.
Com os cotovelos sobre a janela
Vislumbrando o vazio do céu,
Na cabeça uma vaga ideia
E um semblante, como quem entrever:
Que a escuridão é quem comina,
Com a sentença da dádiva da vida,
À todos aqueles que acreditam ser.
Imerso na fantasia
de que exista alguma verdade
Nesse abismo escuro de ironia
Entre minha existência e vaidade.
Penso que um dia essa escuridão vai me engolir.
Me tomar, como se dela fizesse parte.
Olho pro céu uma última vez antes de dormir,
E fecho as janelas. Pois agora já é tarde...
Tarde demais.