As múltiplas facetas da noite

Meia-noite e trinta;

Sabe-se lá quantas vezes eu me revirei na cama

Numa tentativa frustrante de solucionar os problemas

Que minha própria mente pinta

E por mais que eu resuma em ideias sucintas

Em menos de segundos, os quatro cantos da minha psique

Estão cheirando a tinta.

Resistir e idiotice

— Se é pra sentir...que sinta!

Levanto e me direciono à janela;

O silêncio lá fora, permeia.

Postergando o sono em parcelas;

Observo o clarear da lua cheia.

Procuro algo pra me distrair

Ou algum ruído pra me concentrar,

Qualquer coisa pra coibir

Os desencontros do meu pensar.

Qualquer coisa capaz de me coagir

Ao efeito de sopitar.

Cachorros à ladrarem em segundo plano

O som de um cargueiro, lá nó fundo, passando.

O tic-tac do relógio na parede da sala,

O cricrilar do grilo que não para,

Parece disputar com alguma cigarra... pentelha.

E um gato à me azucrinar bem em cima da telha.

Com os cotovelos sobre a janela

Vislumbrando o vazio do céu,

Na cabeça uma vaga ideia

E um semblante, como quem entrever:

Que a escuridão é quem comina,

Com a sentença da dádiva da vida,

À todos aqueles que acreditam ser.

Imerso na fantasia

de que exista alguma verdade

Nesse abismo escuro de ironia

Entre minha existência e vaidade.

Penso que um dia essa escuridão vai me engolir.

Me tomar, como se dela fizesse parte.

Olho pro céu uma última vez antes de dormir,

E fecho as janelas. Pois agora já é tarde...

Tarde demais.

David Wanes
Enviado por David Wanes em 04/03/2019
Código do texto: T6589309
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