BREVE INSTANTE

O relógio da poesia

não marca hora e nem dia,

nem finge sem eterno o tempo,

voa suas palavras no vento

e tudo paira, por um momento,

sobre aquele que versos fia...

O rosto da poesia não abriga face,

no seu espelho a miragem nasce

e se desfaz espalhando viagens,

dá a quem pede o fogo da coragem,

põe e tira como faz o sagrado amor

colorindo o coração com paz e dor...

O corpo da poesia é de um andarilho

vergado sobre a estrada, sobre os trilhos

do trem que nos leva aonde queremos ir,

ele entra em nossa casa sem pedir

e nos apascenta e nos fere

com suas palavras breves

como um haicai,

o Tao,

ying-yang,

o breve instante flutuando

sobre o caos...