Seguranças efêmeras (O que a sétima série fez comigo)
Eu não sou forte.
Resisti por obrigação.
Cada dia de uma vez.
Pura e bruta resignação.
Remédio não havia.
Olhei a tempestade
Até uma névoa cobrir
A esperança, como um véu.
Foram dias e noites
Que chorei sem consolo
Até me fatigar por inteiro
Do ardor de olhos inchados.
Meu novo mundo
Não tinha ritmo nem cor.
Calar-me diante do ódio
Porque não havia resposta.
Intervalos solitários
Privacidade esmiuçada
A estoica honra
Proveniente da calúnia.
Soube de mim
Coisas que nunca fiz
Fui acusada de dizer
Coisas que jamais disse.
Impotência diante da força
Desmedida desde o início
Tal qual a falta de empatia
Não é viver, é sobreviver.
Porque a fuga me atraía
Eu só não tinha para onde ir
E se todos os muros se fecharam
Descobri que a alma pesava...
Eu carregava ASAS...
Não sou anjo nem fada.
Apenas uma incurável sonhadora
Se não havia refúgio físico
Meu coração seria o abrigo.
Dos sonhos que despontavam
Daquilo que eu não deixaria
A maldade do mundo roubar
Eu escreveria meu final feliz.
Quando olhei para o calendário
Já estava em novembro de novo
Tão diferente de fevereiro
Eu era outra, a dor deixa marcas.
Algumas servem de atalho
Para que nos encontremos
Caso percamos o caminho de casa
Ou para quem busca seu lar.
A solidão é um casulo quente
Que lembra os desavisados
Da imprevisibilidade do amanhã
Da pequenez que nos faz pretensos.
Se tivéssemos noção da fragilidade
Dos vasos de barro que somos
Desenvolveríamos a habilidade de pensar
Antes de qualquer ação.
O que parecia divertido para elas
Destruía a minha autoconfiança
Arremedos desnecessários
Elas me tratavam como uma piada.
No começo eu chorava
Paralisada e sem reação
Reagir não era um bom negócio
A vítima se expõe em vão.
Ser feliz era obrigação
Qualquer outra menina
Daria a vida para ser eu
E eu daria minha vida para elas.
Criticar dor que desconhece,
Ao julgar sempre tome cuidado
Você olha por cima do ombro
E amanhã pode estar do outro lado.
Porque a primeira carteira
Da fileira da parede era rotativa
E eu não fazia questão dela
Só de ser feliz, fosse onde fosse.
Rebeldia?
Até pode ser!
Egoísmo?
Pague para ver!
Na opressão dos pátios cinzentos
Pairava a disputa de egos
Engrandecidos com títulos vazios
Carentes de toda atenção do mundo.
Elas se esquecem da outra face
Que nesse jogo de cara e coroa
Todos são perdedores por definição
São as regras preestabelecidas.
Eu não sou forte.
Chorando, encarava o portão.
O pânico me assombrando
De mim, só Deus tinha compaixão.
Cada passo exigia de mim
A força que precisei inventar
Por não ter para onde correr
Eis mais uma longa tarde.
Eu caminhava sorridente
Porque todo amanhecer eu confiava
Naquilo de que queria me convencer:
De que um dia tudo seria diferente.
Colocava a música para tocar
E sonhar com aquele futuro
Que me traria liberdade
E amigos de verdade.
Enterrar o grão de mostarda
Cultivar com carinho
Presa a certezas vazias
Na escuridão que me roubava o sono.
Enquanto setembro se fazia interminável
A indefinição era meu campo minado
Um sorriso no rosto bastava
Para me esquivar das perguntas sem resposta.
Incoerências mil
Grande demais para bonecas.
Pequena demais para decidir.
Eis que o equilíbrio sumiu.
Num ano eu voava alto no balanço
Não tocava as nuvens
Mas o céu era o limite
Azul, como numa tarde de verão.
Eu não tinha ideia da cilada
Que também me serviu de trampolim
Para avisar ao mundo todo
Que num segundo tudo pode mudar.
Do riso ao choro.
Também o inverso.
Nutrimo-nos
De seguranças efêmeras.
Um dia tudo seria diferente.
Sim, seria...
Mas eu teria paciência de esperar?
Era um prazo indefinido
O vento não soprava a meu favor
A paciência me talhava
Para viver grandes sonhos.
Tais como sonhos, pouco duraram.
Amanheceu de novo.
E a inocência foi sugada
Com o meu consentimento.
Fui me moldando aqui e acolá
Para ter aquilo que sempre quis
Bons amigos e um amor verdadeiro
O primeiro foi ilusão.
Eu nunca fui a melhor
Nunca estive em foto alguma
Se não fui lembrada
Isso significa que pouco representei.
A hipótese é a de que implorei
Para minha alma se atrofiar
A fim de não amargar a exclusão
Que se sacramentou de qualquer forma.
Escutar o meu coração
Tão distraído pela sede de amor
Um amor capaz de curar feridas
Mas pessoas abrem feridas.
Eu abri em algumas pessoas
E a lei do retorno foi infalível
Tive em dobro a dor que causei
Mas jamais o amor que sonhei.
Eu não sou forte.
Olhe fundo em meus olhos.
Só estou de corpo presente
Já fugi do mundo faz tempo.