O andarilho

Algumas vezes na calada da noite

Na hora e no momento certo

O desavisado pode gelar o coração

Ao ver de perto uma sombra pestilenta

Com andar arrastado e voz sibilante

Seu rosto e forma são como névoa

Como andarilho em trapos vaga eterno

Vendo cores e sons morrerem em tristeza

E ao ver tão curvada silhueta

O prudente se afasta e sabe

De alguma maneira obscura

Que lá se encerra a pior das doenças

Antigo como o alvorecer

Não possui esperança alguma

Carregando o peso do tempo

Vaga perdido por não poder morrer

Uma vez rei e agora pária

Não conhece toque ou calor

Uma vez belo e agora desfigurado

Não conhece carinho ou compaixão

Cego para a salvação se deita

Tendo a solidão como travesseiro

Olhando para o eterno espetáculo celeste

Anseia pelo último fechar de seus olhos