INFÂNCIA ROUBADA


Com essas leis novas as lembranças começam aflorar
Comecei a trabalhar bem pequenina
para ajudar no meu sustento.
Cinco, seis ou sete anos, nem lembro mas 
tinha que trabalhar para ter alimento
minha mãe ganhava muito pouco,
costurando numa maquina de manivela
para sustentar seis filhos.
Meu pai viajava muito e não tinha responsabilidade
com nosso lar.
Tinha inveja das coleguinhas que eu via brincar na rua.
Olhava pela janela e as lágrimas caíam copiosamente
sobre as copas dos chapéus de palhas que eu tinha que trançar todos os dias para vender por uma miséria no final da semana
Estudava a noite mesmo sendo criança para poder ficar com dia livre para o trabalho.Minha mãe não tinha culpa de nos por pra trabalhar, a vida era difícil, se não trabalhássemos não tínhamos o que comer
Na minha infância de interior não tinha lanche nas escolas muito menos almoço 
Com esforço aprendi ler e adorava ler tudo, revistas literatura de cordel, [meu pai era cantador e tinha muitos romances na minha casa] mas não tinha tempo para ler.As vezes colocava as revistas ou os romances escondidos embaixo das pernas e quando minha mãe descuidava dava uma lidinha, ela olhava, eu sentava em cima.O trabalho não podia parar. O trabalho era leve mas era TRABALHO e me privou de viver uma infância normal
E foi assim toda minha infância, com as brincadeiras escassas, restritas apenas aos domingos e dias santos, feriados e sábados não contavam, tinha que trabalhar.
Achava que não tinha trauma mas agora diante da possibilidade de crianças poderem trabalhar vejo que tive minha infância roubada por um pai que não tinha responsabilidade, mas pior que pais não tinham obrigações de sustentar os filhos naquela época e nem punições por não fazer isso.
Então sou TOTALMENTE contra pôr crianças pra trabalhar, se não puder sustentar não os tenha, hoje tem opção de não ter filhos, ou ter só os que quiser ter. e puder sustentar