INCOMPREENSÕES

Se eu dia eu quiser roubar

Teu bem mais valioso

Não desejarei tua alma,

Ou o teu sorriso

Nem mesmo o coração

Tampouco os teus amores

Menos ainda os sonhos

Ou até mesmo teus deuses

.

Tudo isso se renova

E se refaz

Como caule cortado

Pela lâmina de alguma mesquinhez.

.

Levarei aquilo

Que movimenta teus passos

.

Que te faz elevar a prece à Divindade

Ou simplesmente endereçar blasfêmias

Por algo que ainda não se converteu

.

Que te faz desnudar teus lábios

Em tuas manifestações de alegria

Por algo que ainda não se chorou

.

Que te faz te projetar em incursões abstratas

E te perder em labirintos fantasiosos

Por aquilo que ainda não se alcançou.

.

Que te faz dormir acordado

Sofrer e verter lágrimas

Por aquilo que ainda não se conquistou

.

Que te faz pulsar

E descompassar-te em tênues arrebatamentos

Por alguma coisa que ainda não se amou

.

Que te faz te vender

Ou te perder em loucuras secretas

Por aquilo que ainda não se viveu

.

Levaria sim

Aquilo que gira

A roda de toda a existência

.

E nos convence a prosseguir

Mesmo na palidez da caminhada,

Porque necessário se faz conhecer

O destino peremptório dos passos

.

Levaria o que te é mais caro,

E de tanto que és

Nem te apercebes

Do teu valor intrínseco

.

Eu levaria,

Sequestraria,

Me apropriaria

De todas as tuas incompreensões.

.

© Leonardo do Eirado Silva Gonçalves

(Direitos reservados. Lei 9.610/98)

Leonardo do Eirado
Enviado por Leonardo do Eirado em 01/10/2019
Código do texto: T6758142
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