Habitantes
… Dia.
Não devia ser assim
A Lua que morre, o Sol que se abre
O frio que vai, o vento que bate.
A noite foi linda e
Agora é tarde
Minha cama é a rua,
O colchão, à cidade.
Neste chão, eu preferia estar dormindo
Neste mundo, existem algumas dores que só se sentem sentindo.
Me desculpa moço, tô com fome
Sei que pedi ontem, mas
Não me deixam trabalhar
E, me diga, quem não come?
Que fazer?
Eu não sei
Tu não sabes
E todos se perguntam
Como vai ser
Sentar na calçada
Tudo o que passa
E a caminhada,
Como vai ser?
Me diga você
Que me despreza e
De mim tem medo
Meu desespero, eu tenho medo
Como vai ser?
Sem comida, sem abrigo
O mundo não vê
Mesmo com fome triste e sozinho,
Te juro, Pai, hoje vamos comer.
Não vês?
Nós somos uma legião,
Uma multidão de habitantes sem teto,
E vocês, uma sociedade podre e sem coração
Nao vês que somos filhos das estrelas
Entre elas, tão longe e tão belas,
Reside um coração
Obrigado moço, não sei que iria ser.
Fazia uns três dias que ninguém me dava nada
E eu nao tinha o que comer.
Essa cidade é quente de dia e nas casas
O gelo e os pés, se confundem
De noite, o manto é papelão.
De corpo nu, o travesseiro o concreto, pregado ao chão
A esperança morta, e a dor nas costas, não vai voltar
Essa cidade é tão fria
E'u me sinto tão sozinho
Essa cidade fria
Me faz sentir sozinho
Não devia ser assim
O Sol que morre, a Lua que nasce
O frio que vem e o vento que bate
Boa…