navalha

essas palavras mórbidas

um monólogo ordenado

e ensaiado

para que ninguém te pergunte

aquilo que tem medo,

aquilo que é pesadamente insano de aguentar

e você aguenta.

mas a lágrima pesa mais

e você nunca

teve vergonha

e eu te admiro

e me orgulho de ter como passado

instantes de abraços encabulados

como se eu não tivesse

te abraçado mais que qualquer

outra coisa na vida

você sempre distante com uma presença

numa intensidade só tua

meu sorriso feito navalha

te faz respirar fundo

enquanto revira as revistas

eu só revistando tudo aquilo que já fomos

não escondo o olhar saudoso

e a curiosidade na tua ida

eu não quis te comprimentar

mas o destino,

a gravidade,

a banca

meu horário largo

me levaram até ali

vai entender este espaço tempo.

cada pergunta

resposta

olhos, boca e dentes

uma beijo feito mordida

que arranca pedaço.

tua cicatriz, já sarada

que foi difícil fechar

foi aberta com o meu sorriso sincero

vi escorrer teu orgulho ali

meu olhar navalha

te atravessa

e eu que culpei o universo agradecendo

no mesmo pensamento

não queria te dar adeus.

queria te chamar pra sentar

numa mesa posta de lembranças,

mas você corre

como quem corre do próprio carrasco

e você não olhou pra trás.

eu olhei, admito

com meu interesse fardado de preocupação

meu grito em modo “vibracall”

te ver ali, revistando as coisas reviradas

cru e com uns quilos a mais

remexe minhas entranhas.

Mas... Tudo tem seu e fim e

tivemos um digno de livro, poemas,

contos e prosas e

até das merdas que eu escrevo.

Alipia Mttss
Enviado por Alipia Mttss em 09/11/2019
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