MINHA INFÂNCIA

Quando falo da minha infância, existem buracos imensos na minha memória.
É que tranquei conscientemente, para me proteger, algumas gavetas no meu subsconsciente 
Contudo, lembro-me da minha tia, do milho, das correias, da palmatória, dos duros castigos,
Sevos, atrozes, impiedosos, sádicos, do quarto escuro, sangrava a pele, mas, doia na alma...
E albergava minha vergonha ante pânico desmedido, pungente, contudo,disciplinei esses medos.
Contrapartida, há grata lembrança, boa gaveta, Aninha, a prima, esse amor primeiro, amor platônico!
Ajudava-me a festejar as fantasias de criança, e a guerrear as minhas fomes..., as sedes..., os frios...
Espargindo confetes em meus sonhos,não sabia ainda o que era fé ,todavia,minha paz se iluminava,
Trazia-me ápices de alegrias, apesar das procelas, e criava por vezes átimos de calma na minha vida.
E eu via os sanhaços,comerem livres, felizes, no araçazeiro, eu desajeva ser um para poder voar livre.

Não entendia, não conseguia deveras alcançar, as intenções daquela arbítrio naquela época:
Sua querida mãe, preferiu morrer,a ficar com você, por isso ela foi embora, não me amola!
Não decifrei o enígma, faltava-me o verbo,mas,vi da ira nos olhos,raiva nos gestos,sentia receios,
O  menino de 08 anos, foi acreditanto piamente nessas verdades construidas,se fechou numa bolha!
Criando um mundo particular insólito,e tudo era inverno, exíguo, faltava, carinho, amor, atenção...
Eu carecia de conhecer os homens, esses seres humanos..., e ainda, por certo, não os conheço...
Isso propiciou criação de ilhas na minha personalidade,as cavernas escuras, as sombras, as angústias,
Foram modelando meu caráter, forjando a argamassa diária,decalcando no amálgama o homem triste!
Entretanto a resiliência passou a me mostrar as suas portas,os ecos do otimismo cantaram o  refrão...
Sentei-me nos bancos das escolas da vida, aprendi lições,e os árduos batentes formaram o advogado.

Relembro, fugi aos 12,solidões, intempéries, fomes, frio, a sede, o abandono, improvisaram pernas...
E me alcançaram, me fizeram companhia, me fizeram refém, brincavam insensíveis na minha pele!
Escreveram indócil,os primeiros versos, aos 12 anos,creio que é dessa época a sociedade, a parceria,
Entre a poesia que escrevo,e o poeta que penso ser, que me permitiu fazer das rimas minha esgrima.
Fui catando letra por letra,soletrando o verbo,improvisando,garimpando palavras,e criei minhas asas,
Deixei voar a minha poesia, o homem velho ainda resente-se, e chora copiosamente em seus versos...
Sobretudo ao tomar consciência, de que a morte foi improvisada,simbólica, a emoção invadiu o sinal!
A saudade tirou seu passaporte, e passou a estar mais presente, essa amiga, passou a viajar comigo...
Assim,tenho sempre atualizado meus sonhos, no fito de encontrá-la para conversarmos sobre nós dois
E minha esperança vai progredindo nesse moinho,intento de poder estreitá-la em meus braços,beijá-la
Albérico Silva




 
AlbéricoCarvalho
Enviado por AlbéricoCarvalho em 02/01/2020
Reeditado em 28/01/2020
Código do texto: T6832901
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