Fôlego
E se o tombo,
Aos oito anos,
Por entre o poste e o bebedouro da escola primeira,
Viesse com maior infeliz precisão?
E se partisse minha cabeça humana ao meio?
Lembro-me do sangue,
Da ambulância,
De minha serenidade;
De minha omissão do culpado:
"Escorreguei", dissera -
Comum às frente de bebedouro.
Não houvera dor.
Caí.
Nada tão objetivo
Quanto o pôr pé
Ao encontro
Da corrida de outrem;
Caí,
Sem dor.
Senti-me digno do tombo?
Por isso calei?
Um fôlego a mais
Quiça far-se-ia em centímetros
Com trajeto craniano:
Morrer-se-ia?
Menino loiro,
Boleiro, mêmore:
Chorar-me-iam, supõe-se.
Por hoje, não mais.
Restar-se-ia lembranças:
De cabelos, gols, astúcia -
Até que sequer isso.
Por hoje, não me resta nada;
Senão vento, ficção e cansaço.
Quem me dera o ter,
À época,
Maior fôlego.