inverno
Estou morrendo de repressão, trêmulo, no mundo que devia estar parado
O mundo vazio, esvaziado
Que me arregala os olhos na convulsão do prolapso do afago.
Arrastei equívocos por tantos tempos, tantos gelos
Que minha felicidade caducou, prescreveu
Minha felicidade feto necrosou, congelada na fenda abismal do medo profundo e da neve.
Aterra-me a ideia de que ela, um dia, terá sido possível
Uma vida viável, abortada cruelmente no frio do equívoco e do medo
Afeto assassinado pelo desejo suicida, infanticida,
Que abraça e agarra
A levar consigo ao precipício azul infindável a sua inescapável vítima.
Meus embalos tectônicos ora só fazem dor
De meus velhos vulcões restam apenas cinzas
A se espalharem tóxicas no entorno
Inusitadamente invisíveis, imperceptíveis,
Senão pelo cheiro vago de lamúria, pelo lamento mítico
Pela dor dos que podiam ter sido erupção
Incontrolável jorro de lavas cândidas de afeto
Que hoje não passam de cinzas no nada branco do inverno.