Recuperá-la

O calendário é a única prova que os dias não são iguais

O relógio oscila, ora muito lento, as vezes depressa demais

Olho para longe mas nada vejo deste meu abandonado cais.

Pelas ruas vazias e silenciosas, o vento mal se esgueira

Minha porta, trancada, é uma intransponível fronteira

A janela, portal para um mundo distante, me olha sorrateira.

O tempo parece ter parado, talvez até desistido

Não posso condená-lo, nada disso faz sentido

Testo meu respirar só para ter certeza que ainda é permitido.

Dia e noite se confundem, como se desvinculados do sol e da lua

A vida parece ter se despido da fantasia e nos mostra a verdade nua

Até aqui vivemos anestesiados, acabou a euforia, a dor é crua.

Sobrevivo buscando lembranças até no longínquo passado

Recordações de um tempo onde o mundo ainda era encantado

Memórias de quando vivía em liberdade e não parecia um condenado.

Alguns dias perco a esperança, mas procuro até reencontrá-la.

Caço o pouco que me resta e guardo para não desperdiçá-la

Se ainda houver uma chance de viver como antes, vou recuperá-la.

Ello
Enviado por Ello em 12/05/2020
Código do texto: T6945272
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